Mais de 15 dias após a prisão do suposto serial killer Tiago Henrique Gomes da Rocha, 26 anos, em Goiânia, a Polícia Civil ainda não esclareceu todas as dúvidas sobre a série de mortes que ele confessou a autoria. Incialmente, ele disse aos delegados ter matado 39 pessoas desde 2011. Dias após a prisão, ele reduziu o número de confissões para 29. O suspeito foi localizado após dois meses de investigação de uma força-tarefa da polícia. O objetivo da equipe era solucionar uma série de crimes de homicídios e tentativas de homicídio contra mulheres e um homem na capital, ocorridos desde o início do ano.
Apesar de no início das investigações ter afirmado que tinha convicção de que as mortes de mulheres não tinham um único autor, a polícia acabou constatando semelhanças entre os crimes durante o inquérito. Os delegados que integraram a força-tarefa afirmam que não há dúvidas de que Tiago é o autor dos homicídios. A revelação de crimes que não eram investigados pela equipe surpreendeu a Polícia Civil, que continua com as investigações.
Veja abaixo o que já se sabe e o que ainda é dúvida na série de assassinatos assumidos pelo suposto serial killer:
Quantos crimes ele confessou ter cometido?
Segundo a Polícia Civil, Thiago confessou, inicialmente ter matado 39 pessoas desde 2011 em Goiânia e Aparecida de Goiânia. Entretanto, em novos depoimentos na companhia de advogados, ele negou cinco dos primeiros casos confessados e se recusou a se manifestar sobre quatro deles. De acordo com o delegado Murilo Polati, titular da Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH), Tiago se enganou ao repetir um mesmo crime durante o depoimento, além de ter informado sobre um homicídio que, depois, descobriu-se que a vítima não morreu. Por outro lado, ele também assumiu, de maneira informal aos policiais, que matou um jovem de 22 anos. Assim, a polícia vai continuar a investigação de 38 casos de homicídio relatados pelo suspeito. Além das mortes, o vigilante é apontado como autor de dezenas de assaltos a estabelecimentos comerciais como agências lotéricas e padarias.
Quantos crimes atribuídos a ele eram investigados pela força-tarefa?
Entre os homicídios estão 15 dos 17 crimes investigados inicialmente pela força-tarefa da Polícia Civil. Entretanto, ele confessou outras duas mortes de mulheres que eram apuradas de forma independente e, após a confissão, a polícia as incluiu nas investigações. São os homicídios de Arlete dos Anjos Carvalho, 16, e de Edimila Ferreira Borges, 18. Estes crimes foram confirmados por Tiago nos depoimentos na companhia de advogados.
Algum caso em que ele era suspeito foi descartado?
Dois dos crimes apurados pela força-tarefa não foram assumidos pelo vigilante: a morte de Danielly Garmus da Silva, 23 anos, e a tentativa de homicídio de Daiane Ferreira de Morais, 18. A Polícia Civil não informa se ele era investigado por algum outro crime que não assumiu.
Como a Polícia Civil chegou até ele?
A Polícia Civil afirma que para chegar à identificação do homem foram ouvidas 200 pessoas, além de analisadas 576 placas de veículos suspeitos, 50 mil fotografias de infrações de trânsito e mais de 300 horas de câmeras de segurança passaram por processos de melhoramento de imagens. Além das filmagens das mortes de mulheres, o homem foi gravado quando cometia roubos a estabelecimentos comerciais. Um exame de identificação postural do suspeito ao subir e descer da moto e ao andar revelou semelhanças entre os autores. Com esses dados a polícia traçou o perfil físico do suspeito e do veículo que ele usava. Tiago foi flagrado e preso na Avenida Castelo Branco no dia 14.
Quando ocorreu o primeiro homicídio?
Segundo Tiago informou no primeiro depoimento aos policiais, a primeira vítima foi o estudante Diego Martins Mendes, de 16 anos. Diego desapareceu no dia 9 de novembro de 2011, quando, de acordo com o relato dos pais na época, saiu de casa, no Setor Rio das Pedras, em Aparecida de Goiânia, para se inscrever ao sorteio de uma vaga no Colégio Militar Hugo de Carvalho Ramos, no Jardim Goiás, em Goiânia. Ele foi visto pela última vez conversando com um homem, no terminal da Praça da Bíblia, também na capital. Tiago afirma que abordou o menor com o pretexto de que os dois iriam manter relações sexuais, no entanto, ao chegar a um terreno baldio no Setor Negrão de Lima, acabou matando o garoto. Após a confissão, Tiago indicou aos policiais o local onde Diego teria sido enterrado, mas nada foi encontrado.
Qual foi o último homicídio cometido?
A estudante Ana Lídia de Souza, 14 anos, foi a última pessoa assassinada por Tiago, segundo a polícia. A garota foi morta em um ponto de ônibus do Setor Morada Nova, em Goiânia, em 2 de agosto. A morte da jovem aumentou a desconfiança da população de que um assassino em série agia na capital. Com isso, a Polícia Civil lançou, dois dias após o crime, a força-tarefa para apurar os homicídios de mulheres na capital. Tiago revelou à polícia que interrompeu a sequência de mortes após o homicídio da garota porque teve medo de ser detido.
Ele concentrava os homicídios em algum bairro?
Não. Entretanto, a maioria dos homicídios de mulheres ocorreu nas regiões sul, oeste e sudoeste da capital.
O perfil das vítimas era o mesmo?
Não. Tiago confessou ter matado homens homossexuais, moradores de rua e mulheres. Ele afirma que saia com a intenção de matar, mas não tinha um alvo pré-definido.
Quem foram as vítimas do susposto serial killer?
A Polícia Civil de Goiás informou, até o dia 23 deste mês, a identidade de 21 pessoas dentre as 38 vítimas confessadas no primeiro depoimento de Tiago. Segundo o delegado Murilo Polati, a polícia não vai informar sobre as demais vítimas para não atrapalhar os inquéritos.
Qual a motivação dos homicídios?
Nos depoimentos à polícia e em entrevistas à imprensa, Tiago revelou que tinha um sentimento incontrolável que o levava a cometer os homicídios. “Não dá para explicar, era uma raiva muito grande”, afirmou em entrevista no dia 17.
Qual é o perfil psicológico do vigilante Tiago Rocha?
Apesar de ter sido anunciado que seria feita a avaliação psicológica pelo psicólogo forense Leonardo Faria, a Polícia Civil informou, no dia 23, que não irá requerer o laudo. Segundo Murilo Polati, o exame só será feito quando o processo estiver no Poder Judiciário. Entretanto, enquanto estava na Delegacia Estadual de Repressão a Narcóticos (Denarc), Tiago foi visitado pela psicóloga neurocientista Cássia Oliveira. Segundo a polícia, ela requisitou a visita porque estuda casos de serial killers. Em uma avaliação informal, ela disse que não pode dar um diagnóstico sobre o jovem, mas adiantou que ele “não é louco” e afirma que, “sem dúvida”, trata-se de um serial killer. A polícia afirma que a avaliação não será utilizada nas investigações.
Como será feita a investigação dos outros homicídios cometidos por ele?
Os inquéritos dos crimes são investigados pela Delegacia Estadual de Investigações de Homicídios (DIH).
Antes, a Polícia Civil havia dito que as cilindradas e cores das motocicletas usadas nos crimes eram diferentes. Ele tinha vários veículos?
A polícia afirma que Tiago usava capas para o tanque da motocicleta, nas cores preta e vermelha, com o intuito de aparentar que se tratavam de motos diferentes. Por isso, no começo da investigação a polícia afirmava que as motocicletas usadas nos crimes tinham cores diferentes. Já em relação à afirmação de que as cilindraras não eram as mesmas, a Polícia Civil não se manifestou.
Em todos os casos de homicídios de mulheres o suspeito anunciou assalto?
Em cinco casos o suspeito deu voz de assalto, mas não levou nenhum pertence das vítimas. Nos demais casos, os tiros foram efetuados sem que o autor anunciasse o assalto.
Quais provas o ligam aos crimes de mulheres?
Foram apreendidos com Tiago objetos como roupas, armas, capacete e a motocicleta que, segundo os policiais, foram usados nos homicídios. Uma técnica em balística também afirmou que exames comprovaram que os disparos que mataram sete mulheres e um homem saíram do revólver calibre 38 encontrado com Tiago.
O exame de balística apontou que sete mulheres foram mortas pela arma dele. Ele disse que só usava uma arma e apenas uma foi apreendida. Há outros autores?
A polícia afirma que os exames de balística ainda estão sendo realizados nos demais casos em que a autoria ainda não foi comprovada. Segundo a perita Itatiana Pires, responsável pelos laudos, o péssimo estado dos projéteis encontrados nas cenas dos crimes dificulta a conclusão dos laudos.
Todas as vítimas foram mortas a tiros?
Não, segundo a polícia, Tiago afirmou já ter matado por estrangulamento, a facadas e a tiros.
Ele não deixava vestígios? Por que ele só foi localizado após quase três anos depois do primeiro homicídio?
O delegado Deusny Aparecido, que liderou o grupo de investigadores da força-tarefa, argumenta que a investigação foi "uma das mais complexas já feitas pela Polícia Civil em Goiás". Segundo ele, a polícia teve dificuldades em identificar o autor porque os homicídios não tinham um motivo específico. Além disso, a polícia argumenta que achar o motociclista foi como "buscar uma agulha no palheiro" já que a frota de motos na cidade é de cerca de 350 mil.